Nos Alimentando do Amor de Deus
Por: Raimundo Barreto
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Normalmente nos baseamos no ensinamento de Paulo em 1 Coríntios 13 como sendo a definição do amor. Na realidade, neste texto, Paulo está nos ensinando as características ou as formas de expressão do amor: o amor é paciente, benigno, não arde em ciúmes, não se ufana, não se ensoberbece, etc. Porém, a definição de amor nos é ensinada por João, o discípulo amado: “Nisto consiste o amor: não em que nós tenhamos amado a Deus, mas em que ele nos amou e enviou o seu Filho como propiciação pelos nossos pecados” (1 João 4:10). Esta palavra “propiciação” tem um significado maravilhoso: sacrifício para evitar a ira. O amor se define não por nosso amor a Deus, mas no Seu amor para conosco.
A Lei centraliza o amor em nossa própria capacidade: “Você deve amar a Deus! Deve amá-Lo de todo o seu coração, força e entendimento” (Deuteronômio 6:5). A Lei exige esta prioridade do nosso amor a Deus. E as pregações continuam ainda hoje: “Você deve amar a Deus sobre todas as coisas!” Sim, está corretíssimo. Entretanto a pergunta é: “Mas como eu faço para amar a Deus com toda a minha capacidade?” Aí, então, este ensinamento de João vem abrir o nosso entendimento a respeito de como nos alimentarmos primeiro do amor de Deus para que possamos devolvê-Lo o amor.
“Nós amamos porque ele nos amou primeiro” (1 João 4:19). Nossa capacidade para amar é criada por causa do fluir do Seu amor para nós. O amor de Deus é criativo. Paulo, o apóstolo da graça, nos ensina, em Romanos 5:5, que Deus tem derramando o Seu amor em nossos corações pelo Espírito Santo. Todo o capítulo cinco de Romanos fala a respeito de sermos justificados pela fé, de Deus irradiando Seu amor e o derramando em nossos corações para que nos tornemos submersos nesse amor. Nós nos tornamos completamente novas criaturas no Senhor por causa desse amor. João diz que nós O amamos porque primeiro Ele nos amou.
Deus nos dá o primeiro e grande mandamento: “Amarás ao Senhor teu Deus com todo teu coração, com toda a tua alma, com toda a tua mente e com toda a tua força”. Em seguida Ele nos diz: “Ama a teu próximo como a ti mesmo” (Marcos 12:30, 31). A questão é que a Lei revela a completa incapacidade do homem para fazer a vontade de Deus, a não ser que este se aproprie da graça divina. Aquele que ama é nascido de Deus, e é Deus nele que o capacita a amar: “Amados, amemo-nos uns aos outros, porque o amor procede de Deus; e todo aquele que ama é nascido de Deus e conhece a Deus” (1 João 4:7). Deus é a fonte do amor. Nós O amamos porque primeiro Ele nos amou. Ele derramou Seu amor em nossos corações e nós O estamos amando de volta com uma capacidade que Ele criou. Ele colocou algo de Sua própria natureza dentro de nós. Seus filhos olham para Ele com aquilo que nasceu do Pai – a natureza santa de Deus – e dizem: “Aba Pai, nós Te amamos. Com todo o nosso coração Te amamos”. Não poderíamos dizer e manifestar este amor, se Ele não tivesse nos amado com esse amor criativo.
O conceito geral que as pessoas têm é que amamos ao Senhor porque o Senhor nos amou e fez tudo por nós. Esta não é a razão pela qual O amamos. Nós O amamos porque Seu amor cria em nós a capacidade para amar. Nós O amamos porque Ele nos amou primeiro. Seu amor foi o fator precedente, e você está só refletindo de volta o amor d’Ele. Na realidade, é mais do que refletir: é Seu próprio amor voltando para Ele numa nova criação, que somos nós em Cristo. Que tremendo é quando Deus começa a gerar esse amor! Se desejamos que esse amor seja reproduzido em nós, devemos nos lembrar de que ele é um produto do Espírito; é algo operado completamente por Deus: “Mas o fruto do Espírito é: amor, alegria, paz, longanimidade, benignidade, bondade, fidelidade, mansidão, domínio próprio. Contra estas coisas não há lei” (Gálatas 5:22, 23).
Precisamos ter a compreensão do amor que Deus tem por nós
Deus deixou Israel durante 1.500 anos sob o regime da Lei que exigia deles. E o cumprimento de toda a Lei se resumia em: “Me ame de todo o teu coração, toda tua alma, toda a tua mente e toda a tua força. E ame o seu próximo como a ti mesmo”. E alguém cumpriu isso? Os melhores homens e mulheres que viveram sob a Lei falharam em amar a Deus sobre todas as coisas, até mesmo Davi. Porque a Lei condena até mesmo os melhores (Romanos 3:19, 20, 23). Porém a graça salva o pior dos homens (Romanos 5:20, 21). A Lei exige a justiça do homem, mas a graça imparte a justiça como um dom (Romanos 5:17). A Lei exige do homem o amor; a graça derrama o amor de Deus em nossos corações. Debaixo da Lei Deus disse: “Não te chegues para cá” – não se aproxime de Mim –; “tira as sandálias dos pés, porque o lugar em que estás é terra santa” (Êxodo 3:5). Debaixo da graça, quando o filho pecador voltou para a casa, o pai recebe o seu filho e ordenou aos seus servos: “…Trazei depressa a melhor roupa, vesti-o, ponde-lhe um anel no dedo e sandálias nos pés…”, porque este meu filho estava morto e revivei e tem direito a estar na minha presença (Lucas 15:22).
Deus sabia que o homem falharia e que ninguém seria capaz de guardar a Lei. Mas o homem não sabia que não guardaria a Lei. Por três vezes o povo, arrogantemente, declarou: “Tudo o que o Senhor falou faremos” (Êxodo 19:8; 24:3, 7). Porém, mesmo antes da Lei ser anunciada ao povo por Moisés, eles fizeram o bezerro de ouro para adorar – já transgredindo o primeiro mandamento. Deus deu a Lei para fazer o homem chegar ao seu limite e abater a sua jactância, arrogância e autoconfiança (Romanos 3:23, 24, 27a). A Lei não foi dada para salvar ou justificar o homem, porque “pela Lei vem o pleno conhecimento do pecado”, não o conhecimento de Deus (Romanos 3:19, 20).
Então, Deus disse: “Basta! Veio a hora em que Eu vou amá-los com todo o Meu coração, com toda a Minha Alma e toda a Minha força. Vou provar o Meu amor por todos vocês”. “Porque Deus amou ao mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo o que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna” (João 3:16). “Mas Deus prova o seu próprio amor para conosco pelo fato de ter Cristo morrido por nós, sendo nós ainda pecadores” (Romanos 5:8). “Nisto consiste o amor: não em que nós tenhamos amado a Deus” – Sim!, todos nós falhamos em cumprir a Lei e amá-Lo – ”mas em que ele nos amou e enviou o seu Filho como propiciação pelos nossos pecados” (1 João 4:10). Todos nós precisamos reconhecer que não O amamos sobre todas as coisas. Então, é necessário nos humilharmos e buscarmos nos alimentar do Seu amor. Nossa capacidade de amar é criada por causa do fluir do Seu amor para nós.
Abandone a introspecção: Se alimente do amor de Deus
Então, a cada dia, deve ser não o nosso amor para com Deus, mas o Seu amor para conosco. Em nós não há o amor perfeito. Nós O amamos porque Ele nos amou primeiro. Paulo revela que o amor de Cristo nos constrange, porque um morreu por todos (2 Coríntios 5:14). Devemos viver o nosso dia a dia na consciência do Seu grande amor para conosco, não na introspecção da nossa insuficiência em amá-Lo sobre todas as coisas. Esta introspecção e exigência só traz condenação e morte.
Estamos conscientes do quanto Ele nos ama. Então vivemos sob um foco intenso do amor do Pai para conosco. Há uma luz brilhante do amor de Deus sobre você, como um holofote. Viva como o apóstolo Paulo: “…logo, já não sou eu quem vive, mas Cristo vive em mim; e esse viver que, agora, tenho na carne, vivo pela fé no Filho de Deus, que me amou e a si mesmo se entregou por mim” (Gálatas 2:20). Paulo, em seu viver diário, se alimentava do amor de Cristo e do Pai. Quanto mais você crê – não no seu amor a Deus, mas no amor de Deus para com você – mais você O amará.
O que é mais confiável e estável: o seu amor por Deus ou o amor de Deus para com você? O seu amor por Deus é inconstante, cheio de altos e baixos. No domingo, após o culto, o seu amor por Deus está em alta. Na próxima quarta-feira, o amor diminui. E é sempre assim, hora seu amor está intenso e em outro momento fraco. Por isso lembro: abandone a introspecção, fixe a sua fé no Filho de Deus e no Seu amor para com você. Mantenha sua fé no amor de Deus para com você, pois este amor é constante, estável e perfeito. Esta consciência e fé produzirão estabilidade no seu amor e caminhar com Ele. O amor de Deus para com você não varia nem muda. “Toda boa dádiva e todo dom perfeito são lá do alto, descendo do Pai das luzes, em quem não pode existir variação ou sombra de mudança” (Tiago 1:17).
Este é o pacto do Novo Testamento: Nós o amamos, porque Ele nos amou primeiro. A introspecção é muito perigosa, pois nos mantém ocupados com nós mesmos. Não há nada mais doloroso e deprimente do que estar ocupado consigo mesmo: “…logo, já não sou eu quem vive, mas Cristo vive em mim”. Ocupe-se com Cristo e Seu amor para com você. É nisto que você deve focalizar a sua consciência, fé e esperança. Deus quer que nos ocupemos com Cristo e focalizemos nEle (Hebreus 12:2).
As Escrituras sempre descrevem Cristo como Se posicionando no centro de todas as coisas. “Porque, onde estiverem dois ou três reunidos em meu nome, ali estou no meio deles”. (Mateus 18:20). “Estando as portas trancadas, veio Jesus, pôs-se no meio e disse-lhes: Paz seja convosco!” (João 20:26b). Quando Ele se coloca no meio, a Sua paz nos envolve. “Jamais terão fome, nunca mais terão sede, não cairá sobre eles o sol, nem ardor algum, pois o Cordeiro que se encontra no meio do trono os apascentará e os guiará para as fontes da água da vida. E Deus lhes enxugará dos olhos toda lágrima” (Apocalipse 7:16, 17).
Deus não examina você e suas falhas: Ele examina o Cordeiro!
Deixe eu te explicar algo simbólico a respeito dos animais imolados e oferecidos nos sacrifícios pelo pecado. Quando uma pessoa pecava ou oferecia oferta voluntária ao Senhor, conforme prescrito na Lei, deveria se apresentar diante do Senhor com um novilho ou cordeiro sem defeito (Levítico 22:17-25). Quando o novilho era trazido à porta da tenda da congregação, perante o Senhor, o sacerdote não examinava o ofertante ou pecador, mas o cordeiro ou novilho. Era observado se o animal não era: “Cego, ou aleijado, ou mutilado, ou ulceroso, ou sarnoso, ou cheio de impigens, ter testículos machucados ou cortados”.
O sacerdote não examinava o ofertante, mas a oferta. Quando pecamos ou falhamos, Deus não olha para nós, pensando: “Será que este ofertante é bom?” Não! Deus examina o quão bom é o Cordeiro. A questão, agora, não é o quão bom ou perfeito eu sou, mas o quão bom e perfeito é o Cordeiro. Jesus Cristo, O Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo, foi examinado e achado sem mácula (Hebreus 9:14). Deus nos amou sendo nós ainda pecadores e por isso nos Deus o Seu único Filho como propiciação pelos nossos pecados.
Voltando ao livro de Levítico, nos é apresentada a orientação sobre o sacrifício pelo povo. O texto de Levítico 16:21 registra: “Arão porá ambas as mãos sobre a cabeça do bode vivo e sobre ele confessará todas as iniquidades dos filhos de Israel, todas as suas transgressões e todos os seus pecados; e os porá sobre a cabeça do bode e enviá-lo-á ao deserto, pela mão de um homem à disposição para isso”. Cristo é o nosso Cordeiro que foi imolado na Cruz.
Duas coisas acontecem quando se coloca a mão sobre a cabeça do bode ou do cordeiro vivo. Primeiro, ao confessar todos os pecados sobre o animal, estamos transferindo todo o pecado e mal para ele. Segundo, a justiça (ou pureza) do cordeiro se transfere para você. Assim acontece, pela fé, quando lançamos todos os nossos pecados ao Cordeiro de Deus: Nossos pecados entram no Cordeiro e a Sua justiça nos é impartida como um dom (Romanos 5:17). Tudo acontece pelo princípio espiritual da transferência em mão dupla. Você se achega cheio de pecado e sai cheio de graça e de justiça. E o sangue do Cordeiro foi derramado e purificou nossas consciências. Não há mais culpa em nossas consciências.
Muitos cristãos cometem um grande erro de interpretação no ensinamento de Paulo a respeito da Ceia. Em 1 Coríntios 11:28, aonde está escrito: “Examine-se, pois, o homem a si mesmo, e, assim, como do pão, e beba do cálice”, o contexto e o grego não deixam dúvidas quanto à compreensão de que a questão é o modo (a maneira) como discernimos o corpo de Cristo, não como nós devemos nos examinar. A questão nunca é o ofertante, mas a oferta. A questão não é o estado do nosso coração, mas o nosso discernimento da oferta do corpo e do sangue de Jesus Cristo que nos traz saúde divina. Porque os crentes da igreja em Corinto não tinham um discernimento correto dos benefícios do sangue e do corpo de Cristo, havia entre eles “muitos fracos e doentes e não poucos que dormem” (morrem). (Leia em meu blog a mensagem: “Discernindo o corpo de Cristo”, aonde tem uma explicação completa sobre esta passagem que fala da Ceia do Senhor).
A questão central não é o seu amor por Ele,
mas o grande amor dEle por você
A questão central não é o seu amor por Ele, mas o grande amor dEle por você. Entenda que você não é o centro do mundo ou o protagonista da história. O mundo não gira em torno de você, mas de Deus: “Pois nele vivemos, e nos movemos, e existimos, como alguns dos vossos poetas têm dito: Porque dele também somos geração” (Atos 17:28).
Deus nos ama! Quão maravilhoso é ser capaz de sentir isso, ser capaz de erguer os olhos e dizer: “O Senhor me ama!” Nossos corações deveriam estar completamente apercebidos do quanto Deus nos ama. Ele está irradiando o Seu amor para nós; e quanto mais recebemos este amor, mais ele cria dentro de nós. Então, abra o seu coração e diga: “Senhor, Eu sei que Você me ama, sei que Você me ama mais do que o meu coração é capaz de entender”. A nossa pequena mente nunca será capaz de compreender este perfeito amor. É um amor que vai além do conhecimento – Deus, que criou o vasto universo, focaliza o Seu amor e o irradia para nós, nos redimindo, salvando e nos criando à Sua própria imagem e com a capacidade de amá-Lo.
O que Deus está fazendo em tudo isto? Ele está Se esforçando para criar em nós um amor que flua de volta para Ele, um amor tão grande que nada neste mundo possa ser o seu rival.
O contraste entre João e Pedro
João compartilhou no Evangelho e em suas cartas o que ele viveu. Devemos abrir os nossos corações para entendermos o ensinamento de João. O nome de João tem origem no hebraico Yehokhanan, Iohanan, composto pela união dos elementos Yah, que significa “Javé, Jeová, Deus”, e hannah, que quer dizer “graça”. Sendo assim, o nome João significa “Deus é cheio de graça”, ou “a graça de Deus”. Não é maravilhoso? O Evangelho diz que João era “o discípulo a quem Jesus amava” (João 20:2; 19:26; 21:7, 20). Eu sempre me perguntei: “Qual o segredo de João? Por que João era tratado por Jesus com este amor especial?” Então descobri que a chave deve estar no próprio Evangelho de João, porque é lá que temos as quatro passagens que se referem a ele como o discípulo amado. E creio que João fez a questão de registrar, não para sua glória pessoal, mas para nos revelar o grande segredo.
Na última noite com os Seus discípulos, antes de Jesus ser crucificado, o Evangelho registra alguns fatos inusitados. Após ter lavado os pés dos Seus discípulos e tomado a Ceia com eles, Jesus se levantou e afirmou que, por causa de Sua morte, todos eles se escandalizariam, como está escrito: “Ferirei o pastor, e as ovelhas do rebanho ficarão dispersas”. Então Pedro, apontando para todos os outros discípulos, falou: “Senhor, mesmo que todos Te abandonem e se escandalizem, eu nunca Te abandonarei, nunca Te negarei, nunca serás um tropeço para mim. Ainda que seja necessário morrer contigo, de nenhum modo te negarei”. E Jesus respondeu: “Pedro, em verdade te dito que, nesta mesma noite, antes que o galo cante, tu me negarás três vezes” (Mateus 26:31-35).
Além de Pedro e Judas, outro discípulo é focalizado naquela última cena: João. O texto agora é João 13:21-26. Quando Jesus afirmou: “Em verdade, em verdade vos digo que um dentre vós me trairá” (vs. 21), todos ficaram curiosos. E o texto continua: “Ora, ali estava conchegado a Jesus um dos seus discípulos, aquele a quem amava…” (vs. 23). E Simão Pedro fez sinal a João para perguntar a Jesus a quem Ele se referia.
O texto contrasta o comportamento de Pedro e o de João. O nome Pedro significa pedra e representa a Lei: aquela pessoa que promete jamais negaria o Senhor, que O ama a ponto de dar a sua vida por Ele. Já João (a graça) estava aconchegado ou “reclinado sobre o peito de Jesus” (Bíblia King James). Segundo o costume daquela época, o Senhor se reclinava no chão com o apoio do cotovelo para comer. E João, o discípulo amado, se reclinava sobre o peito de Jesus. Esta sena é um retrato de que João se apoiava no amor do Senhor para com ele. E Jesus revelou a João o segredo do Seu coração, compartilhando quem era o traidor: “É aquele a quem eu der o pedaço de pão molhado” (vs. 26a). Quando nos apoiamos e confiamos no amor de Cristo por nós, como fez João, e não no nosso amor por Ele, como fez Pedro, escutamos o coração de Jesus.
Antes que acabasse aquela noite singular, onde estava Pedro, o discípulo que declarou que nunca negaria o Senhor e que, se preciso fosse, daria a sua vida por Ele? Pedro estava negando o Senhor por três vezes. E onde estava João, o discípulo amado? João foi o único dos discípulos que permaneceu com Jesus ao pé da cruz, juntamente com as três Marias e Marta (João 19:25-27). Note que João sabia que o Senhor o amava e nisto estava a sua confiança. Pedro representa todos aqueles que confiam no seu próprio amor pelo Senhor, na sua capacidade de amá-Lo até à morte. Já João representa aqueles que creem na graça e confiam no amor do Senhor por eles. A revelação do amor de Jesus por eles, os capacitam a serem fiéis ao Senhor. Com quem você se identifica: com Pedro ou com João?
O que nos fortalece? Nos alimentar do Seu amor e graça! Não devemos nos alimentar do nosso amor por Ele, mas do Seu amor por nós. Jesus Se alimentava em fazer a vontade do Pai. Nós nos alimentamos do Seu amor por nós. Em qualquer situação da vida você deve estar consciência da luz que brilha sobre você, do amor que Deus tem emanando para a sua vida. Perceba a luz, o favor e a graça do Senhor sendo ministrada a você, pelo Espírito Santo. Você é um filho e amado, no Amado, participando da riqueza da Sua graça (Efésios 1:3-6).
João não teve medo da morte quando permaneceu ao pé da cruz. Por isso ele compreendeu o perfeito amor que lança fora todo o medo. “No amor não existe medo; antes, o perfeito amor lança fora o medo. Ora, o medo produz tormento; logo, aquele que teme não é aperfeiçoado no amor” (1 João 4:18). Já Pedro, naquele momento, teve medo de ser pego pelas autoridades e também ser morto. Confie no amor do Senhor para com você e seja livre de todo o medo.
O amor de Deus nos sustenta e encoraja
Quando Jesus saiu das águas do batismo, Ele ouviu a voz do Pai que veio dos céus e que dizia: “Este é o meu Filho amado, em quem me comprazo” (Mateus 3:17). Logo em seguida, Jesus foi levado pelo Espírito Santo para a Sua primeira grande provação: ser tentado pelo diabo no deserto. Então, por duas vezes o diabo O tentou, dizendo: “Se és Filho de Deus…” (vss. 4:3, 6). Note que o diabo omitiu uma palavra: “Amado”. O Pai afirmou: “Tu és meu Filho amado”. E o diabo questionou a consciência de filiação de Jesus e, ainda, omitiu a palavra amado: “Se és Filho de Deus”. Porque era contraproducente ao diabo lembrar a Jesus que Ele era um Filho amado do Pai. Quando sabemos que somos filhos Deus e que temos o Seu amor, as tentações não terão força contra nós.
Nos momentos da nossa vida que passamos por provações ou dificuldades, precisamos permitir que o Espírito Santo nos lembre que também somos filhos amados. A consciência de nossa identidade e do perfeito amor incondicional do Pai, nos fortalece para superarmos todas as dificuldades. Satanás sempre vai querer omitir a verdade de que você é um filho amado do Pai. Você está no Amado! Você está reclinado no peito de Jesus e não deve ter medo de nada. A consciência deste perfeito amor de Deus por você, lança fora todo o medo.
Quando uma criança tem um pesadelo noturno, ela procura correr para os braços do pai (ou da mãe). Reclinada no braço do pai (ou da mãe), recebendo a emanação daquele amor, ela se sente protegida, confiante, corajosa e sem medo. Permaneça inclinado no peito de Jesus, ouvindo o batido do Seu coração: aqui está o segredo de João.
É com este mesmo coração que os presbíteros, pais e professores das Escolas do Reino devem ministrar às suas ovelhas, filhos e alunos: afirmando o amor e bondade de Deus para com elas: “Quão preciosa é, ó Deus, a tua benignidade (graça)! E por isso os filhos dos homens se abrigam à sombra das tuas asas… Estende a tua benignidade (graça) sobre os que te conhecem, e a tua justiça sobre os retos de coração” (Salmos 36:7, 10).
Deus não mais se ira contra você
O capítulo 53 de Isaías descreve com riqueza de detalhes o sofrimento vicário de Jesus na Cruz, sendo, Ele mesmo, a “propiciação” por nossos pecados. Lembra da definição de “propiciação”? – sacrifício para evitar a ira (confira Hebreus 2:17 e 1 João 2:2). Os versículos 6 e 7 dizem: “Todos nós antávamos desgarrados como ovelhas; cada um se desviava do caminho, mas o Senhor fez cair sobre ele a iniquidade de nós outros. Ele foi oprimido e humilhado, mas não abriu a boca; como cordeiro foi levado ao matadouro…”. Como consequência da obra perfeito de Jesus na cruz, fazendo a propiciação pelos pecados, descrita no capítulo 53, o capítulo 54 descreve a grande misericórdia do Senhor e Seu juramento: “…e assim jurei que não mais me iraria contra ti, nem te repreenderia” (vs. 9). Deus fez, por meio de Jesus Cristo, uma aliança de paz conosco que jamais seria removida (vs. 10). Já o capítulo 55 tem uma descrição da perpétua aliança de graça e misericórdia que o Senhor firmaria conosco, por meio de Jesus Cristo: “…porque convosco farei uma aliança perpétua, que consiste nas fiéis misericórdias prometidas a Davi” (vs. 3b).
Davi morreu sem experimentar em sua vida esta aliança de misericórdia. Paulo lembra que Davi almejou este dia, quando seria “bem-aventurado o homem a quem Deus atribui justiça, independente de obras: Bem-aventurado aquele cujas iniquidades são perdoadas, e cujos pecados são cobertos; bem-aventurado o homem a quem o Senhor jamais imputará pecado” (Romanos 4:6-8). Hoje participamos da nova aliança da graça e misericórdia do Senhor, quando Deus não se lembra mais dos nossos pecados (Hebreus 10:17) e nós estamos salvos da ira de Deus: “Logo, muito mais agora, sendo justificados pelo seu sangue, seremos por ele salvos da ira” (Romanos 5:9).
No Novo Testamento não há nenhum registro que Deus se ira contra os Seus filhos, por causa dos seus pecados. Porque toda a ira de Deus contra o pecado foi liberada sobre Jesus, na Cruz. Porque Cristo nos impartiu o dom a Sua justiça, agora a graça e o amor podem reinas em nossas vidas (Romanos 6:20, 21). Em Isaías ficou registrado que Deus jurou não mais se irar contra nós, Seus filhos. Ele não precisava ter jurada. Entretanto, este juramente é mais uma garantia para nós. Agora, o perfeito amor e graça, lançam fora todo o medo: somos filhos amados do Pai. Devemos crer na verdade. Crendo corretamente, sentimentos e pensamentos verdadeiros surgem em nossos corações.
O fruto do Espírito Santo
Toda vez que você tem fé e consciência do amor de Deus por você, você o amará mais. O amor será um fruto espontâneo produzido pelo Espírito Santo em sua vida, não um esforço mental ou da alma.
Certa vez, Jesus foi convidado por um fariseu, por nome Simão, para que fosse jantar com ele (Lucas 7:36-50). Estando à mesa, uma mulher pecadora levou um vaso de alabastro com unguento e: “estando por detrás, aos seus pés, chorando, regava-os com suas lágrimas e os enxugava com os próprios cabelos; e beijava-lhe os pés e os ungia com o unguente”. O fariseu pensou que o Senhor deveria ter repreendido aquele ato (de amor), pois aquela mulher era pecadora. Mas Jesus lhe trouxe um ensinamento maravilhoso sobre o amor e a graça: “Por isso, te digo: perdoados lhe são os seus muitos pecados, porque ela muito amou; mas aquele a quem pouco se perdoa, pouco ama” (Lucas 7:47). Quanto mais consciente uma pessoa é do grande amor de Deus em perdoar seus muitos pecados, maior será o espontâneo amor dela para com Ele. Quanto menos uma pessoa é consciente do amor de Deus, pouco ela ama.
Jesus nunca exigiu amor das pessoas, mas sempre manifestou Seu perfeito amor e graça para com todos e, então, aqueles que recebem o Seu amor, passam a manifestar este mesmo amor. “Aquele que não ama não conhece a Deus, pois Deus é amor… E nós conhecemos e cremos no amor que Deus tem por nós. Deus é amor, e aquele que permanece no amor permanece em Deus, e Deus, nele” (1 João 4:8, 16).
Deus provou o Seu amor por nós nos mandando um substituto
“Mas Deus prova o seu próprio amor para conosco pelo fato de ter Cristo morrido por nós, sendo nós ainda pecadores” (Romanos 5:8). Uma das maiores demonstrações do amor de Deus para conosco é o fato dEle ter entregue o Seu filho para morrer por nós.
A história de Abraão, que iria oferecer seu único filho, Isaque, no altar, é uma figura do Amor de Deus por nós, que ofereceu Seu único Filho como propiciação por nossos pecados. “Acrescentou Deus: Toma teu filho, teu único filho, Isaque, a quem amas, e vai-te à terra de Moriá; oferece-o ali em holocausto, sobre um dos montes, que eu te mostrarei” (Gênesis 22:2). E o texto narra que Abraão subiu ao monte com Isaque e este levava a lenha do holocausto sobre os seus ombros. Que linda imagem, prefigurando Jesus Cristo levando a Sua cruz ao subir o monte do Calvário.
Quando Deus falou para Abraão que Isaque era o seu único filho, não mencionou Ismael, filho da serva Hagar, porque Isaque era o filho da promessa. O relato de Abraão entregando o seu único filho como holocausto é uma exata figura de Deus entregando o Seu único Filho, Jesus Cristo, para morrer por nós – o Cordeiro imolado na cruz. E Deus falou mais: “…teu único filho, Isaque, a quem amas…”.
Deus, na realidade, nunca queria que Abraão imolasse o seu único filho, Isaque. Mas aquela cena é uma ilustração visual que se cumpriu na crucificação de Jesus Cristo. Salomão edificou a casa de Deus em Jerusalém, no Monte Moriá (2 Crônicas 3:1). Já o Gólgota, ou Calvário, também era uma outra colina – um pouco mais elevada que Moriá -, fora da cidade de Jerusalém, aonde Jesus foi crucificado. “Tomaram eles, pois, a Jesus; e ele próprio, carregando a sua cruz, saiu para o lugar chamado Calvário, Gólgota[1] em hebraico…” (João 19:17). Sabendo disso, agora podemos compreender o que aconteceu com Abraão no Monte Moriá: “Tendo Abraão erguido os olhos, viu atrás de si um cordeiro preso pelos chifres entre os arbustos; tomou Abraão o carneiro e o ofereceu em holocausto, em lugar de seu filho” (Gênesis 22:13). Quando Abraão olhou para trás, voltou-se para o Gólgota e, pela fé, viu o Cordeiro de Deus que seria o substituto de seu filho. O que confirma e explica a declaração de Jesus: “Abraão, vosso pai, alegrou-se por ver o meu dia, viu-o e regozijou-se” (João 8:56).
E Deus disse a Abraão: “…agora sei que temes a Deus, porquanto não me negaste o filho, o teu único filho”. Semelhantemente podemos dizer a Deus: “Agora sei, Senhor, que me amas, porque não negastes o Teu Filho, teu único Filho, que amas”. “Porque Deus amou ao mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo o que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna” (João 3:16). Você nunca saberá o quanto Deus te ama, até quando compreender o quanto Deus ama a Jesus, e O entregou para morrer no seu lugar. Se temos esta revelação do amor de Deus por nós, seremos mais que vencedores (Romanos 8:37-39).
Isaías 53:1 começa descrevendo o Renovo como sendo o braço do Senhor. Ser amado pelo Pai, é estar amparado nos braços de Jesus. Por isso João, o discípulo amado, ao reclinar sobre o peito de Jesus, estava amparado por Seus braços (confira Marcos 9:36). O seu amor por Deus não é perfeito. Mas o amor de Deus por você é perfeito. Por isso o amor perfeito de Deus tirou todo o medo da vida de João. E mesmo sabendo que passaria deste mundo para o Pai, Jesus, o Braço de Deus, não deixou João e Maria desamparados, mas conectou-os como mãe e filho (João 19:26, 27). Maria recebeu João como filho; e João recebeu Maria como mãe, levando-a para casa e passando a cuidar dela. Mesmo diante da morte, Jesus manifestou amor perfeito.
O resgate de Pedro
Quando o Senhor de Pedro foi crucificado, ele disse, num momento de desencorajamento: “Vou pescar”, e os outros discípulos, que também se encontravam perdidos, disseram: “Nós também vamos com você”. Na manhã seguinte, Jesus apareceu na praia e depois de ter-lhes dito onde lançar a rede, eles reconheceram a Sua mão miraculosa novamente, e exclamaram: “É o Senhor!” Impetuosamente Pedro lançou-se no mar e nadou até Ele, mas quando chegou lá, não sabia o que dizer. Quando os discípulos puxaram a rede, esta estava cheia com cento e cinquenta e três peixes. Os peixes dispostos ali, aos pés do Senhor, provavelmente ainda se debatiam. O Senhor Se voltou para Pedro e disse: “Simão, filho de Jonas, amas-Me mais do que a estes?” Jesus empregou o termo grego ágape – o amor perfeito e sacrificial. E Pedro, o pescador, que tinha dito, “vou pescar”, agora respondeu: “Sim, Senhor, Tu sabes que eu Te amo”, utilizando o termo grego fileo, que significa carinho ou afeto. Sim, agora Pedro foi sincero: seu amor por Jesus não era perfeito. Então Jesus concluiu: “Apascenta as minhas ovelhas” (João 21:17). Jesus expressou Sua confiança em Pedro, pois ele aprendeu a lição. O amor perfeito de Jesus não abandonou a Pedro. Não foi o amor de Pedro por Jesus que o sustentou e capacitou a ser fiel até a morte, mas foi o amor de Jesus por ele (João 21:19).
A fé opera pelo amor, não pelo seu amor, mas pelo amor de Deus por você (Gálatas 5:6). Quando você conhece o amor que Deus tem por você, esta revelação libera o mais alto nível de fé na sua vida. Fé para liberar os Seus milagres, curas e sinais. O amor do Pai gera o mais alto nível de confiança, ousadia e fé na sua vida. Deus te ama muito!
[1] Uma antiga tradição rabínica afirma que Davi enterrou a cabeça do gigante Golias numa colina chamado Gólgota, que pode ser traduzida como Lugar da Caveira. Este relato seria a comprovação que Jesus Cristo, a semente da mulher, na cruz, pisou sobre a cabeça da serpente.