Paralelismo Hebraico método de escrita da Bíblia
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Paralelismo Hebraico usado na Bíblia

Os livros poéticos do Antigo Testamento, juntamente com a maioria dos livros proféticos e muitas passagens dos outros livros, fazem uso extensivo do PARALELISMO HEBRAICO. Este artifício literário é construído a partir do uso de duas linhas que as relacionam entre si de alguma forma especial. A segunda linha pode ser sinônima da primeira, caso em que é chamado “paralelismo sinônimo” (p. ex., Salmos 1:5; 2:3; 59;1; Isaías 44:22).

Quando a segunda linha é o oposto da primeira, a parelha de versos é chamada de “paralelismo antitético” (p. ex., Salmos 1:6 e 20:8). A segunda linha também pode ser o clímax da primeira, ou uma ilustração da mesma, ou completá-la de uma forma que seja mais sentida do que entendida. Este paralelismo é algumas vezes chamado de “sintético” (Salmos 1:2; 9:8; 27:1; 55:6).

            Tendo este paralelismo de duas linhas como ferramenta, os poetas do Antigo Testamento desenvolveram três estilos literários básicos para relacionar estas partes separadas do paralelismo. Estes estilos são chamados de Paralelismo Padrão, Paralelismo Invertido e Paralelismo em Degrau. Estes três artifícios literários ocorrem todos em Isaías 55:6-11. Neste caso o paralelismo pode ser visto claramente, mesmo em uma tradução portuguesa como a ARA. Vamos destacar cada um deles.

Paralelismo Padrão
(Ex.: Isaías 55:6, 7)

A      Buscai o Senhor enquanto se pode achar,

A      invocai-o enquanto está perto.

B       Deixe o perverso o seu caminho,

B       o iníquo os seus pensamentos;

C      Converta-se ao Senhor, que se compadecerá dele

C      e volte-se para o nosso Deus, porque é rico em perdoar.

            Aqui o autor começa com três parelhas de paralelismo padrão. Em cada caso o tema exposto na primeira linha é repetido na segunda. Note que a segunda linha é sinônima da primeira, você pode constatar isso observando as palavras em itálico: buscai / invocai-o; caminho / pensamentos; converter-se / voltar-se.

Paralelismo Invertido
(Ex.: Isaías 55:8, 9)

A   Porque os meus pensamentos não são os vossos pensamentos,

               B         nem os vossos caminhos os meus caminhos, diz o Senhor.

                           C         Porque, assim como os céus são mais altos do que a terra,

               B         assim são os meus caminhos mais altos do que os vossos caminhos,

A   e os meus pensamentos mais altos do que os vossos pensamentos.

            Ainda estamos lidando com pares de linhas, mas o autor as colocou em ordem diferente (como se pode ver facilmente observando-se os itálicos). O tema de “meus pensamentos/vossos pensamentos” ocorre no começo e é repetido no fim (A). O tema de “meus caminhos/vossos caminhos” ocorre na segunda e quarta linhas (B). A ilustração/parábola dos céus e da terra ocorre no centro (C).

            Observe ainda a repetição deliberada da palavra “altos”. A repetição dessa palavra enfatiza o tema central do poema: Iavé é Deus e habita nos altos céus, logo, seus pensamentos e caminhos são mais altos (elevados ou nobres) que os pensamentos e caminhos dos homens, daí a necessidade de sua conversão ao Senhor.

            Note que continua a ser usado o paralelismo, mas neste caso é paralelismo invertido.

Paralelismo em Degrau
(Ex.: Isaías 55:10, 11)

            Este caso pode ser visto melhor quando escrito como segue:

A   Porque, assim como descem a chuva e a neve dos céus,

               B         e para lá não tornam, sem que primeiro reguem a terra

                           C         e a fecundem e a façam brotar

                                       D         para dar semente ao semeador e pão ao que come,

A   assim será a palavra que sair da minha boca;

               B         não voltará para mim vazia,

                           C         mas fará o que me compraz,

                                       D         e prosperará naquilo para que a designei.

            As quatro linhas da segunda estrofe combinam com as quatro linhas da primeira estrofe em um padrão ABCD/ABCD, fazendo um desenho em forma de degrau, desta forma este artifício poético pode ser chamado de paralelismo em degrau. Observando-se os verbos, podemos perceber que a primeira linha de cada estrofe fala de algo saindo e a segunda fala de algo não voltando. As duas últimas linhas apresentam os resultados.

            Estes três artifícios estilísticos podem ser usados em várias combinações, mas os blocos básicos dessa edificação literária são os três tipos de paralelismo esboçados acima. Uma grande variedade de padrões encontra-se frequentemente no PARALELISMO INVERTIDO. Desta forma este artifício requer especial atenção.

            O PARALELISMO INVERTIDO de Isaías 55:8, 9, examinado anteriormente, é um caso claro. Neste caso estamos tratando de parelhas de versos, e os pares de linhas se relacionam uma à outra de forma invertida. Na literatura bíblica a inversão de temas algumas vezes vai muito além de simples paralelismo. Conjuntos de parelhas de versos, parágrafos, capítulos e até um livro todo pode ser considerado como tendo sido composto com base em uma série de temas que são declarados e depois repetidos de forma invertida. Assim sendo, somos obrigados a ir além do paralelismo invertido, e falar do Princípio de Inversão.

Por exemplo, na ilustração das três parelhas de versos de paralelismo padrão apresentada acima (Isaías 55:6, 7), Isaías usou o princípio de inversão. Ele começa na primeira parelha de versos com uma conclamação para buscar o Senhor. A segunda parelha diz ao ímpio o que precisa ser abandonado (caminho e pensamentos). Na terceira parelha voltamos ao tema da primeira (converter-pensamentos e voltar-caminhos).

            Uma observação: Quando um autor bíblico usa intencionalmente a inversão de linhas paralelas, frequentemente coloca o auge no centro que se relaciona com o começo e o fim. Em seguida há um ponto de retorno pouco depois do centro. Às vezes há a inversão dupla.

            Alguns princípios que ajudam a inspirar cautela talvez sejam oportunos agora.

  1. As ideias que se repetem em linhas combinadas são as ideias mais importantes da linha, e demonstram sê-lo em todo o poema. Se apenas palavras de somenos importância se combinam, então a estrutura sugerida é imaginária.
  • A linha poética do Antigo Testamento hebraico e a sintaxe do hebraico e aramaico devem sempre estar como pano de fundo, para ajudar a determinar onde a linha poética começa e termina. Por exemplo, “ele lhe deu” costumeiramente é uma só palavra nas linguagens semíticas, e não pode ser quebrada em duas linhas.
  • Frequentemente uma porção mais antiga de literatura apresenta para um novo leitor, alguns comentários adicionais ligados a ela. Estes comentários adicionais salientam-se porque quebram o padrão literário. A presença de frases adicionais como essas em algumas das estruturas literárias do Novo Testamento – como veremos no próximo capítulo ao examinarmos Lucas 6:22, 23 – introduz um jogo que qualquer número de participantes pode jogar. Marque frases suficientes como comentários adicionais, e você poderá criar qualquer padrão literário em qualquer parágrafo do Novo Testamento. Precisamos ter o maior cuidado para identificar qualquer palavra ou frase como comentário de editor posterior. A interrupção desse padrão feita pelo comentário adicional precisa estar evidente. É necessário haver uma razão clara e discernível que tenha levado alguém, em certo estágio da transmissão do material, a acrescentar um breve comentário.
  • Traduções mais antigas e mais formais, como a ARC, podem ser usadas com proveito pelo não especialista. Muitas traduções recentes em português usaram de grande liberdade reordenando as palavras e frases em uma ordem apropriada para a língua portuguesa. Um bom começo pode ser com a ARA, mas certo conhecimento das línguas originais é essencial para um estudo preciso da estrutura de determinada passagem.
  • Quando há uma estrutura no texto, os relacionamentos entre as linhas são fortes e evidentes. A sutileza é um inimigo mortal.
  • Tem-se verificado que as inversões são inconscientemente expressas em vários escritos como cartas, memorandos de escritório e conversa casual. Neste estudo estamos procurando uma repetição deliberada que tem raízes no paralelismo hebraico do Antigo Testamento. O estudante precisa procurar características especiais como o auge central que se relaciona com o começo e o fim; um ponto de retorno pouco depois do centro; indícios de inversão dupla; redundância introduzida para completar o paralelismo; e outras repetições que pareçam ser claramente deliberadas. Quando tais características ocorrem, o estudante pode estar bem confiante de que está tratando com uma construção literária consciente, importante para a análise.  

            Como um reforço ao que vimos até aqui neste capítulo, vejamos mais um belo exemplo de Paralelismo em Isaías.

Cântico do Servo
(Isaías 49:5, 6)

        A           Mas agora diz o Senhor,

                      que me formou desde o ventre para ser seu servo,

                      B         para que torne a trazer Jacó,

                                  C         porque eu sou glorificado perante o Senhor,

                                              e o meu Deus é a minha força.

        A’          Sim, diz ele:

                      Pouco é o seres meu servo,

                      B’        para restaurares as tribos de Jacó,

                                  e tornares a trazer os remanescentes de Israel;                                 

                                  C’        também te dei como luz para os gentios,

                                              para seres a minha salvação até a extremidade da terra.

            Já observamos o uso de paralelismo em degrau em Isaías. Aqui, mediante o uso de parelhas repetidas de versos, o papel característico do servo é enfatizado. Na primeira série o servo é formado do ventre (A) para restaurar Jacó/Israel (B) e é especialmente honrado por Deus, que se tornou a sua força (C). Esta série de ideias é relativamente tradicional. Mas a segunda série contém uma surpresa dramática. Pois descobrimos que é coisa sem importância ser o servo de Deus (A’) tendo em vista apenas a restauração de Jacó/Israel (B’). Assim sendo, ele é dado como luz para a salvação dos gentios (C’). O claro progresso do texto esclarece o duplo papel do Servo. Ele é formado/enviado para as “ovelhas perdidas da casa de Israel”.

Mas isto não é suficiente em relação à grandeza do Servo. Ele é fortalecido e honrado (C) de forma que possa tornar-se a luz de salvação até os confins da terra (C’). Há uma força centrífuga de missão expressa no texto.


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Rai Barreto
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