A verdade sobre Ananias e Safira
A verdade sobre Ananias e Safira
(Atos 4:32 a 5:11)
Raimundo Barreto
Garanhuns, PE, fevereiro de 2022
O contexto:
O contexto em que o ocorrido com o casal judeu Ananias e Safira acontece está em Atos 4:32 a 35. Este texto descreve como vivia a comunidade cristã:
“Da multidão dos que creram era um o coração e a alma. Ninguém considerava exclusivamente sua nem uma das coisas que possuía; tudo, porém, lhes era comum. Com grande poder, os apóstolos davam testemunho da ressurreição do Senhor Jesus, e em todos eles havia abundante graça. Pois, nenhum necessitado havia entre eles, porquanto os que possuíam terras ou casas, vendendo-as, traziam os valores correspondentes e depositavam aos PÉS dos apóstolos; então, se distribuía a qualquer um à medida que alguém tinha necessidade. José, a quem os apóstolos deram o sobrenome de Barnabé, que quer dizer filho de exortação (consolação), levita, natural de Chipre, como tivesse um campo, vendendo-o, trouxe o preço (todo o dinheiro) e o depositou aos pés dos apóstolos.
Note a atmosfera que havia entre a comunidade cristã primitiva. Observe as expressões e palavras chaves do texto:
- Os que creram se moviam em unidade de coração e alma. Havia uma bondade e um sentimento positivo, de edificação em todos;
- Os apóstolos se moviam em grande poder;
- Em todos havia abundante graça, de forma que não havia nenhum necessitado, pois ninguém dizia que coisa alguma do que possuía era sua própria, mas todas as coisas lhes eram em COMUM;
- Os que possuíam terras ou casas, vendia e traziam TODO o valor e depositavam aos pés dos apóstolos;
- Então, o texto passa a fazer um CONTRASTE, primeiramente citando um discípulo, Barnabé, que tinha boas referências: um ministério reconhecido de consolo, era levita e da cidade de Chipre. Barnabé vendeu o campo que tinha e trouxe todo o dinheiro e depositou aos pés dos apóstolos.
Ananias, um certo homem
Aí, então, o texto introduz, em paralelo ao gesto de Barnabé, um discípulo com credenciais, a história de um CERTO HOMEM chamado Ananias, com sua mulher chamada Safira, que, de comum acordo, venderam uma propriedade e reteve parte do preço.
Uma das chaves para entendermos este acontecimento é que Ananias é chamado de “um certo homem”, ou seja, ele não tinha credencial de discípulo, era uma pessoa que não fazia parte da comunidade cristã. Observe que, quando as Escrituras contam a história de um homem ou mulher piedosa, sempre apresenta as suas credenciais. Veja o caso de um outro Ananias, de Damasco, que era um discípulo e orou por Saulo para que suas vistas fossem recuperadas e recebesse o Espírito Santo (Atos 9:10). Veja também a menção de Cornélio, um homem piedoso e temente a Deus (Atos 10:1). Ou seja, as Escrituras sempre descrevem as credenciais da pessoa, assim como foi feito com Barnabé, mas Ananias foi chamado de “um certo homem”.
Conclusão óbvia: Ananias não era um crente, não pertencia à comunidade dos santos e não estava se movendo no mesmo Espírito de unidade, comunhão, debaixo da Ordem Divina apostólica e da abundante graça.
Então, este fato ocorrido com Ananias e sua esposa Safira não se trata de um julgamento de Deus pela mentira de um crente. Trata, sim, da PROTEÇÃO DIVINA contra um “espírito” que quis se aproveitar da graça (bondade e generosidade) de Deus que fluía na comunidade. O que aconteceu é o relatado no Salmos 1:4, 5 – “Os ímpios não são assim; mas são como a palha que que o vento lança para longe. Portanto, os ímpios não ficarão de pé no juízo, nem pecadores na congregação dos justos” (versão BKJ). Este Salmo fala do juízo de Deus sobre os ímpios, quando os ímpios (pecadores) são tirados de cena. O salmista diz que o vento (Espírito Santo) lança para longe a palha (os ímpios).
O que se entende é que Ananias e Safira queriam se aproveitar financeiramente da comunidade cristã, se aproveitar da abundante graça que fluía dos corações dos crentes. Eles venderam uma propriedade, retiveram parte do dinheiro e queriam participar do suprimento abundante da comunidade.
O pecado de ultrajar o Espírito da graça
O livro dirigido aos Hebreus descreve em 10:26-31 o juízo e fogo vingador aos hebreus que pecarem deliberadamente contra o Espírito da graça e aqueles que “calçarem aos pés o Filho de Deus” (versículos 28 e 29):
“Aquele que desprezou a lei de Moisés, morreu sem misericórdia, sob duas ou três testemunhas. Com quão maior castigo pensais vós que será julgado merecedor aquele que pisar o Filho de Deus, e tiver por profano o sangue do pacto com que foi santificado, e ultrajar ao Espírito da graça?” (BKJ).
O verbo grego “katpateo” é muito comum e significa pisar sob os pés. Tal palavra era usada figuradamente para indicar desdenhar ou desprezar. Agora podemos entender porque o texto usa tantas vezes a expressão PÉS. Nos tempos antigos, as pessoas expressavam seu desprezo por algo pisando-o liberalmente com os pés. Os bens vendidos pelos discípulos eram depositados aos pés dos apóstolos, com o sentido honra. Já Ananias e Safira caíram aos pés do apóstolo Pedro e morreram (Atos 5:10). A causa foi que o casal “tentaram o Espírito do Senhor” (vs. 9), que é o Espírito da Graça (Zacarias 12:10 e Hebreus 10:29).
O Novo Testamento diz que Deus sujeitará todas as coisas debaixo dos pés de Cristo (ver Hebreus 2:8 e 1 Coríntios 15:25).
A lição é: nunca despreze o Espírito da graça que vem do Senhor. Houve grande temor de todos os que presenciaram ou ouviram a notícia destes acontecimentos.
O casamento da GRAÇA com a LEI gera MORTE
Ao lermos as Escrituras, tanto no Antigo como no Novo Testamento, devemos buscar a revelação dos ensinamentos que estão “escondidos” no texto, as pérolas do Reino de Deus. Portanto, vamos nos aprofundar um pouco mais sobre os acontecimentos que sobrevieram ao casal Ananias e Safira.
ANANIAS (Ἁνανίας) é a forma grega de Hananias (palavra hebraica para חנניה, “Yahweh é gracioso“, “Deus é gracioso”). Hannah – graça. Yah – Iavé. Em Atos 9:12 vemos um outro Ananias (“Graça de Deus”) orar para que os olhos do grande legalista da sua época fossem abertos: Saulo de Tarso. Quando Saulo abriu os olhos, a primeira pessoa que ele enxergou foi Ananias, representando a graça de Deus.
Já a esposa de Ananias chamava-se SAFIRA, uma pedra preciosa de cor azul. Safira representa a LEI DE MOISÉS. As tábuas de pedra da Lei foram escritas em pedras de safira. Confira o texto abaixo de Êxodo 24:9-12:
“E subiram Moisés, e Arão, e Nadabe, e Abiú, e setenta dos anciãos de Israel. E viram o Deus de Israel, sob cujos pés havia uma como pavimentação de pedra de safira, que se parecia com o céu na sua claridade. Ele não estendeu a mão sobre os escolhidos dos filhos de Israel; porém eles viram a Deus, e comeram, e beberam. Então, disse o SENHOR a Moisés: Sobe a mim, ao monte, e fica lá; dar-te-ei tábuas de pedra, e a lei, e os mandamentos que escrevi, para os ensinares”.
A tradição rabínica também afirma que a pedra aonde foi escrita a Lei era de safira. A safira é esculpida e surge em altíssima temperatura, igual à que havia no cume do monte Sinai, aonde havia o fogo do Senhor. O fogo do Senhor, no cume do monte Sinai, transformou a rocha em Safira.
Observou a imagem do Senhor sobre o monte Sinai? “E viram o Deus de Israel, sob cujos pés havia uma como pavimentação de pedra de safira…”. Imagem semelhante a retratada em Atos 5:10 – “No mesmo instante, caiu ela (Safira) aos pés de Pedro e expirou (morreu)”.
A lição é: toda vez que quisermos harmonizar ou casar Ananias (a graça de Deus) com Safira (a Lei), teremos morte.
Eis, então a grande verdade: toda vez que caímos da graça de Deus, nos submeteremos à Lei, à morte: “De novo, testifico a todo homem que se deixa circuncidar que está obrigado a guardar toda a lei. De Cristo vos desligastes, vós que procurais justificar-vos na lei; da graça decaístes” (Gálatas 5:3, 4).
“E o mandamento que me fora para vida, verifiquei que este mesmo se me tornou para morte…” (Romanos 7:10). Toda vez que um cristão se desconecta de Cristo, caindo da graça, tentará se esforçar para agradar a Deus e gerará morte no seu espírito. O Espírito da Graça não suporta a associação com Safira!
Crer corretamente sempre nos leva a viver a fé de forma correta e sadia. Quando você crer corretamente, viverá corretamente.
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