Quatro cálices da Páscoa
Festas Bíblicas

Os quatro cálices da Páscoa e da Ceia

A obra completa da CRUZ

Raimundo Barreto
Garanhuns, PE, março de 2024

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Os primeiros capítulos do livro de Êxodo começam narrando a história da libertação do povo judeu da escravidão do Egito que durara quatrocentos anos. No capítulo 3 é descrito que o Anjo do Senhor apareceu a Moisés numa chama de fogo, no meio de uma sarça que não se consumia. Então, o Anjo comissiona Moisés a ir a Faraó para tirar o Seu povo, os filhos de Israel, do Egito, e para levá-los até à terra que mana leite e mel. Note que o plano do Senhor era completo: libertar o Seu povo da escravidão e introduzi-lo na terra da promessa.

Os versículos 7 e 8 registram: “Disse ainda o Senhor: Certamente, vi a aflição do meu povo, que está no Egito, e ouvi o seu clamor por causa dos seus exatores. Conheço-lhe o sofrimento; por isso, desci a fim de livrá-lo da mão dos egípcios e para fazê-lo subir daquela terra a uma terra boa e ampla, terra que mana leite e mel; o lugar do cananeu, do heteu, do amorreu, do ferezeu, do heveu e do jebuseu”.

Mais adiante, em Êxodo 6:6 a 8, o Senhor manda Moisés dizer aos filhos de Israel as quatro promessas de livramento da Páscoa: “Portanto, dize aos filhos de Israel: eu sou o Senhor” (Yahweh)”, e vos TIRAREI de debaixo das cargas do Egito, e vos LIVRAREI da sua servidão, e vos RESGATAREI com braço estendido e com grandes manifestações de julgamento. TOMAR-VOS-EI por meu povo e serei vosso Deus” (Aceitação)”; e sabereis que eu sou o Senhor (Yahweh), vosso Deus, que vos tiro de debaixo das cargas do Egito. E vos levarei à terra a qual jurei dar a Abraão, a Isaque e a Jacó; e vo-la darei como possessão. Eu sou o Senhor (Yahweh)”. Observe os verbos destacados em negrito e contidos nestas palavras de Jeová ao Seu povo. Baseado nestas palavras de libertação do Senhor ao Seu povo, os judeus começaram a celebrar a Páscoa com quatro pequenos cálices de vinho, que recordavam e representavam cada uma destas quatro promessas que se cumpriram em sua história: tirarei, livrarei, resgatarei e tomar-vos-ei (aceitação).

Em Jesus Cristo temos o cumprimento pleno das quatro promessas da Páscoa. Em Jesus se cumpriu o significado espiritual completo e eterno destas promessas, conforme estudaremos no Novo Testamento. O entendimento desta verdade abrirá o nosso entendimento para a obra completa de Jesus, o Cordeiro de Deus, na cruz, na Páscoa do cumprimento.

Na terceira e última Páscoa que Jesus celebrou com Seus discípulos Ele prioriza três ações: o jantar da Páscoa com a Ceia e o lava-pés, a oração no Getsêmani e a crucificação. Vamos ler os relatos nos Evangelhos.

O primeiro, em Marcos 14:12-16,é descrito que no primeiro dia da Festa dos Pães Asmos, quando se fazia o sacrifício do cordeiro pascal, os discípulos deveriam preparar o lugar para a Ceia da Páscoa. Então, Jesus disse que encontrassem um homem trazendo um cântaro de água – que é o próprio Marcos, filho de Maria – e que já estava preparando um espaçoso cenáculo mobilado e pronto para a ceia da Páscoa. A Ceia da Páscoa foi realizada na casa de Maria, mãe de Marcos.

Agora note atentamente o texto de Lucas 22:7-23 que traz mais detalhes sobre a Ceia da Páscoa de Jesus com Seus discípulos. Vamos nos deter nos versículos 14 a 20.

“Quando chegou a hora, Jesus e os seus apóstolos reclinaram-se à mesa. E disse-lhes: Desejei ansiosamente comer esta Páscoa com vocês antes de sofrer. Pois eu lhes digo: Não comerei dela novamente até que se cumpra no Reino de Deus. Recebendo UM CÁLICE, ele deu graças e disse: Tomem isto e partilhem uns com os outros. Pois eu lhes digo que não beberei outra vez do fruto da videira até que venha o Reino de Deus. Tomando o pão, deu graças, partiu-o e o deu aos discípulos, dizendo: Isto é o meu corpo dado em favor de vocês; façam isto em memória de mim.  Da mesma forma, depois da ceia, tomou O CÁLICE, dizendo: Este cálice é a nova aliança no meu sangue, derramado em favor de vocês.

Notou que Jesus tomou primeiramente um cálice e depois o cálice? Seguindo a tradição dos judeus, naquela Ceia da Páscoa havia 4 cálices especiais sobre a mesa, que relembravam as 4 promessas associadas à primeira Páscoa no livro de Êxodo. Então, veremos que, em Jesus Cristo, será cumprida as 4 bênçãos que envolvem o trabalho de nossa redenção completa. Entendemos, portanto, que há uma correspondência entre as quatro bênçãos da Páscoa com os quatro cálices da Ceia.

Observe que entre o momento em que Jesus toma o primeiro cálice, por duas vezes ele deixa a profecia e promessa que: “de agora em diante, não mais beberei do fruto da videira, até que venha o reino de Deus”. Ou seja, haverá um último cálice, o quarto como veremos a seguir, que o Cordeiro de Deus só tomará conosco no Reino do Pai. Vamos, então, identificar os três cálices que se cumpriram na última Páscoa e crucificação de Jesus?

Vamos traçar o paralelo entre os dois cálices tomados por Jesus na última Ceia da Páscoa com as quatro promessas de livramento em Êxodo 6:6-8.

1º Cálice: tirados de debaixo do jugo do pecado

Portanto, dize aos filhos de Israel: eu sou o Senhor (Yahweh), e vos TIRAREI de debaixo das cargas do Egito…

Aqui temos a promessa do livramento do trabalho (carga pesada) imposto por Faraó ao povo judeu durante a escravidão no Egito. O primeiro cálice nos revela que o sangue de Jesus Cristo, derramado na cruz, nos livra da ESCRAVIDÃO DO PECADO, que é mal senhor sobre as nossas vidas.

A apropriação da provisão que há no primeiro cálice é revelada claramente por Paulo em Romanos 6:8-14, onde nos é ensinado que, em Jesus, recebemos a graça para não mais sermos escravos do pecado.

“Ora, se já morremos com Cristo, cremos que também com ele viveremos, sabedores de que, havendo Cristo ressuscitado dentre os mortos, já não morre; a morte já não tem DOMÍNIO sobre ele. Pois, quanto a ter morrido, de uma vez para sempre morreu para o pecado; mas, quanto a viver, vive para Deus. Assim também vós considerai-vos mortos para o pecado, mas vivos para Deus, em Cristo Jesus. Não reine, portanto, o pecado em vosso corpo mortal, de maneira que obedeçais às suas paixões; nem ofereçais cada um os membros do seu corpo ao pecado, como instrumentos de iniquidade; mas oferecei-vos a Deus, como ressurretos dentre os mortos, e os vossos membros, a Deus, como instrumentos de justiça. Porque o PECADO NÃO TERÁ DOMÍNIO SOBRE VÓS; pois não estais debaixo da lei, e sim da graça”.

A GRAÇA CAPACITADORA que recebemos na Páscoa nos livra do domínio e jugo do pecado sobre as nossas vidas. A Graça se manifestou salvadora a todos os homens e nos educa a renegar as paixões mundanas, para vivermos no presente século, justa e piedosamente, cheios de boas obras (Tito 2:11-14).

2º Cálice: livres da escravidão, recebemos a filiação

“…e vos LIVRAREI da sua servidão…

Esta segunda promessa da Páscoa, representada pelo segundo cálice, traz a promessa e cumprimento em Jesus Cristo de que somos livres da nossa condição de escravos, passando a filhos resgatados pelo Pai. Este entendimento é desenvolvido por Paulo em Gálatas 3:23 a 4:11. Paulo explica às igrejas da Galácia que agora, em Cristo Jesus, pela fé, não somos mais escravos da lei, nem do pecado e de nenhum outro deus. Mas, em Jesus fomos resgatados e recebemos a adoção de filhos: “E, porque vós sois filhos, enviou Deus ao nosso coração o Espírito do Seu Filho, que clama: Aba, Pai!” (4:5, 6).

Porque não recebestes o espírito de escravidão, para vivermos, outra vez, atemorizados, mas recebestes o espírito de adoção, baseados no qual clamamos: Aba, Pai! O próprio Espírito testifica com o nosso espírito que somos filhos de Deus…” (Romanos 8:15, 16). Note que seria muito importante que o povo judeu não apenas fosse livres do jugo de Faraó, mas também vivesse a nova mentalidade de filho, não mais de escravos. Assim também nós que fomos perdoados de todos os nossos pecados pelo sangue de Jesus Cristo, precisamos entender que a obra da cruz não se resume apenas no perdão, mas na filiação.

O “Segundo Cálice” é o da Nova Aliança: “Semelhantemente, depois de cear, tomou O CÁLICE, dizendo: Este é O cálice da nova aliança no meu sangue derramado em favor de vós” (Lucas 22:20).

3º Cálice: livres da escravidão, recebemos a filiação

“…e vos RESGATAREI com braço estendido e com grandes manifestações de julgamento”.

Na primeira Páscoa o povo judeu foi tirado de debaixo do jugo da escravidão de Faraó, resgatado da condição de escravos para a condição de nação dos filhos de Jeová. Mas, também, o Senhor estendeu “Seu braço forte” trazendo grande manifestação de julgamento sobre os deuses do Egito. Este fato é importante, pois o extermínio dos inimigos nos dá a segurança de que eles não mais nos “alcançarão” para nos escravizar. “Já não falarei muito convosco, porque aí vem o príncipe do mundo; e ele nada tem em mim…” (João 14:30).

Em João 16:8-11 Jesus ensina-nos sobre os três aspectos da nossa salvação. O terceiro está relacionado à revelação de que o Espírito Santo nos revelará a verdade do juízo do “príncipe deste mundo” que Jesus decretou na cruz: “Quando ele vier, convencerá o mundo do pecado, da justiça e do juízo: do pecado, porque não crêem em mim; da justiça, porque vou para o Pai, e não me vereis mais; do juízo, porque o príncipe deste mundo já está julgado”. Sendo assim, quando nos convertemos a Jesus Cristo, precisamos entender que ele não apenas nos livrou do jugo (escravidão e peso) do pecado, também nos livrou da mentalidade de escravos para receber o Espírito de filiação, mas, também, a verdade de que Ele trouxe juízo sobre os espíritos que nos aprisionavam.

A expressão registrada em Êxodo de que ele nos resgataria com “braço estendido” é uma figura do julgamento declarado por Jesus Cristo quando estava na cruz com os “braços estendidos”. Romanos 8:1-4 nos ensina que Deus, o Pai e Juiz, condenou na carne de Jesus o pecado. Ao estender os Seus braços na cruz, o Senhor Jesus declarou: “Teletestai”, está consumado ou pago (João 19:28-40). Este texto de João nos revela que, para se cumprir a Escritura, Jesus disse que estava com sede. Então, deram-lhe a beber vinagre (vinho azedo). Este vinho azedo era o terceiro cálice que Jesus orou no Getsêmani, no Monte das Oliveiras, para que, se possível o Pai O dispensasse de beber (Lucas 22:39-45).

Em Colossenses 2:13-15 Paulo nos agracia com a revelação de que, na cruz, Cristo triunfou contra os principados e potestades, publicamente expondo-os ao desprezo. A cruz é o ápice das histórias de julgamento do pecado e de Satanás. Foi bem alí, na dor da expiação, que o Senhor triunfou com braço estendido.

4º Cálice: cumprimento pleno no Reino, na ceia das Bodas do Cordeiro

“…TOMAR-VOS-EI por meu povo e serei vosso Deus” (Aceitação)”; e sabereis que eu sou o Senhor (Yahweh), vosso Deus, que vos tiro de debaixo das cargas do Egito. E vos levarei à terra a qual jurei dar a Abraão, a Isaque e a Jacó; e vo-la darei como possessão. Eu sou o Senhor (Yahweh)”

Este quarto e último cálice nos traz a promessa do cumprimento pleno da nossa salvação e libertação no Reino do Pai, quando Ele nos receberá com grande júbilo.

então, dirá o Rei aos que estiverem à sua direita: Vinde, benditos de meu Pai! Entrai na posse do reino que vos está preparado desde a fundação do mundo” (Mateus 25:34).O Reino de Deus é o cumprimento pleno dos propósitos de Deus para os Seus filhos resgatados e acolhidos pela graça.

E, tomando um cálice, havendo dado graças, disse: Recebei e reparti entre vós; 18 pois vos digo que, de agora em diante, não mais beberei do fruto da videira, até que venha o reino de Deus” (Lucas 22:17, 18). Durante a Páscoa Jesus profetizou e nos prometeu que estaria à nossa espera e que um dia, nos receberia (ACOLHER) na porta do Reino do Pai. Esta é a esperança que devemos recordar com o quarto cálice que ainda tomaremos com Ele quando participaremos da grande e eterna Ceia das Bodas do Cordeiro. Então, nos dias do Reino, participaremos da ceia e do cálice no Banquete do Cordeiro, conforme é revelado em Apocalipse 19:7-9. A morte de Jesus e a Sua ressurreição é a nossa garantia de ingresso no Reino do Pai.

Lucas é o que mais registra no seu Evangelho a respeito de banquetes e sentar-se à mesa dom Jesus. Confira Lucas 13:29 que diz: “Muitos virão do Oriente e do Ocidente, do Norte e do Sul e tomarão lugares à mesa no reino de Deus”.

O quarto cálice aponta para o cumprimento da profecia de Isaías 25:6-9 – “O Senhor dos Exércitos dará neste monte a todos os povos um banquete de coisas gordurosas, uma festa com vinhos velhos, pratos gordurosos com tutanos e vinhos velhos bem clarificados. Destruirá neste monte a coberta que envolve todos os povos e o véu que está posto sobre todas as nações. Tragará a morte para sempre, e, assim, enxugará o Senhor Deus as lágrimas de todos os rostos, e tirará de toda a terra o opróbrio do seu povo, porque o Senhor falou. Naquele dia, se dirá: Eis que este é o nosso Deus, em quem esperávamos, e ele nos salvará; este é o Senhor, a quem aguardávamos; na sua salvação exultaremos e nos alegraremos”.

Ao participarmos da Páscoa e da Ceia do Senhor devemos celebrar nosso livramento do jugo do pecado, nosso resgate e aceitação como filhos amados, declarar a sentença de julgamento escrita sobre Satanás e alimentarmos a nossa fé e esperança de participarmos da plenitude de nossa salvação: a Ceia das Bodas do Cordeiro no Reino do Pai.

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Rai Barreto
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